Ser pobre, negro, morar na vila, seja lá o que for, não deveria ser algo anormal. Infelizmente, no Brasil, isso é. Não importa se são estudantes, trabalhadoras(es) e sobreviventes na luta por um espaço no contexto social. Muitos são alijados da convivência normal por uma parcela da população que não os aceita, ou melhor dizendo, os ignora totalmente.
A Organização das Nações Unidas (ONU) destaca que os direitos humanos são direitos inerentes a todos os seres humanos, independentemente de raça, sexo, nacionalidade, etnia, idioma, religião ou qualquer outra condição. O papel aceita tudo. Na prática brasileira, a realidade é bem diferente. Que o digam as centenas de pobres, negros e moradores da periferia que somem do mapa, vítimas da barbárie da violência cotidiana.
Lutar contra o sistema vigente é uma tarefa árdua, que exige coragem, força e determinação. Diria, algo praticamente impossível. O jornalista, sociólogo e ex-deputado federal Marcos Rolim destacou em sua rede social: "Marielle Franco (PSOL/RJ), vereadora da luta pelos Direitos Humanos, militante em defesa das mulheres e do povo negro, assassinada pelo pior tipo de bandido, aquele que ataca as garantias, que zomba da civilização e que, muito provavelmente, gerencia o crime com apoio oficial. Tristeza e indignação!" Rolim foi além: "Para se descobrir os autores e os mandantes do atentado que matou a vereadora Marielle Franco (PSOL/RJ) e o motorista Anderson Pedro Gomes, será preciso levar em conta quem são as pessoas que o corajoso trabalho dela vinha importunando."
No filme Tropa de Elite 2, do diretor José Padilha, o tenente-coronel Roberto Nascimento - papel interpretado por Wagner Moura - já alertava: "O policial não puxa esse gatilho sozinho. O sistema entrega a mão para salvar o braço. O sistema se reorganiza, articula novos interesses, cria novas lideranças. Enquanto as condições de existência do sistema estiverem aí, ele vai resistir. Agora, me responde uma coisa: quem você acha que sustenta tudo isso? É, e custa caro, muito caro. O sistema é muito maior do que eu pensava. Não é à toa que os traficantes, os policias e os milicianos matam tanta gente nas favelas. Não é à toa que existem favelas. Não é à toa que acontece tanto escândalo em Brasília, que entra governo, sai governo, a corrupção continua. Para mudar as coisas, vai demorar muito tempo. O sistema é f... Ainda vai morrer muito inocente."
De acordo com José Padilha, "o Brasil perdeu a sensibilidade para o absurdo". Ele critica, há tempos, o modelo de segurança pública brasileiro e se recusa a justificar "uma barbárie pela outra".
Chegamos ao fundo do poço, e a identidade brasileira foi jogada no lixo por governantes corruptos, que, lamentavelmente, seguem imunes no comando do país. Nossas futuras gerações estão condenadas a viver em um Brasil sem ordem nem progresso. Historicamente, o Brasil está entregue a uma elite financista e vendilhona. É doloroso dizer isso.
A impunidade machuca e deixa maus exemplos ao povo brasileiro. Mata a esperança de um amanhã mais justo, fraterno e solidário. Destrói planos e acaba com sonhos. A violação de um direito afeta o respeito por muitos outros. A dignidade e o valor de cada pessoa são desprezados.
Apesar de tudo, é preciso valorizar a Declaração Universal dos Direitos Humanos, que completa 70 anos agora em 2018 e é o documento mais traduzido do planeta - atualmente disponível em 503 línguas.
Rui Barbosa já dizia: "O homem que não luta pelos seus direitos não merece viver." Vamos, então, lutar e merecer viver, custe o que custar.